Você já deve ter ouvido falar em cidades inteligentes (CIs), pois é um conceito que vem se tornando cada vez mais comum e mais discutido no mundo. É uma tendência que responde a problemas como superpopulação, mudança climática, desigualdades sociais, trânsito caótico, crise de energia e outros.
O crescimento urbano desordenado degrada o meio ambiente, sobrecarrega os serviços públicos e compromete a qualidade de vida das metrópoles. Nesta situação, a busca por soluções inovadoras para o caos urbano e social tem trazido resultados até surpreendentes.
Tais soluções se apresentam de forma muito mais intensa nas chamadas cidades inteligentes. São iniciativas voltadas para tornar as comunidades mais agradáveis, sustentáveis e eficientes nas suas funcionalidades.
Mas, na verdade, cidade inteligente é um conceito muito amplo, com diversos significados. Neste artigo vamos apresentar para você estes conceitos, como as CIs estão crescendo e as perspectivas para a construção civil neste contexto.
Cidades inteligentes e tecnologia
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta elementos que se destacam no desenvolvimento global das cidades inteligentes:
1- Cidades de países emergentes estão investindo bilhões de dólares em produtos e serviços inteligentes para sustentar o crescimento econômico e as demandas materiais da nova classe média.
2- Ao mesmo tempo, países desenvolvidos precisam aprimorar a infraestrutura urbana existente para permanecer competitivos.
3- Mais da metade das Cidades europeias acima de 100 mil habitantes, por exemplo, já possuem ou estão implementando iniciativas para se tornarem de fato Smart Cities.
Mas o que são cidades inteligentes, afinal?
O senso mais comum de cidade inteligente está associado ao uso intensivo de tecnologias de ponta para a administração das localidades e melhoria da qualidade de vida.
“A IBM, por exemplo, define cidades inteligentes como aquelas que fazem uso otimizado de informações interconectadas para entender e melhor controlar operações e recursos. Essa é uma definição do ponto de vista dos dados”, explica o Sebrae.
Segundo este conceito, de viés puramente tecnológico, uma CI usa diferentes tipos de sensores eletrônicos para coletar e usar dados, a fim de gerenciar recursos e ativos eficientemente.
Assim, a CI integra a tecnologia da informação e comunicação (TIC) a vários dispositivos físicos conectados em rede, otimizando as operações e serviços da cidade.
Numa cidade inteligente a tecnologia deve permitir que as autoridades interajam diretamente com a infraestrutura da cidade e com a sua comunidade.
Os gestores monitoram em tempo real o que está acontecendo no seu município e como ele está evoluindo.
Neste cenário, a TIC é usada para melhorar a qualidade, desempenho e interatividade dos serviços urbanos.
Também serve para reduzir os custos e o consumo de recursos, além de aumentar o contato entre cidadãos e governo.
Conceito alternativo de CI
Mas há quem inclua outros elementos de peso igual ou até maior que as tecnologias na definição de CI. Entre eles, a sustentabilidade, limpeza, serviços de saúde acessíveis e eficientes e a participação ativa da comunidade na administração.
Este conceito alternativo também considera a ligação fluente entre os diversos serviços e operações, numa relação virtuosa que potencializa recursos e resultados.
Assim como a CI ajuda o poder público a reconhecer problemas em tempo real, também ajuda o cidadão a produzir informações, mapear situações e enfrentar melhor as adversidades que a cidade lhes apresenta.
Conforme a Fundação Getúlio Vargas (FGV):
“O enfoque atual é na cidade criativa e sustentável, que faz uso da tecnologia em seu processo de planejamento com a participação dos cidadãos.”
Ao invés de definir quais cidades devem ou não ser consideradas “inteligentes”, é mais construtivo se pensar nas atividades e fatores que podem tornar uma cidade mais inteligente, diz a FGV.
Veja exemplos destes fatores na ilustração.
Fatores essenciais numa CI
Por seu lado, o Sebrae aponta como fatores essenciais nas cidades inteligentes os seguintes:
- São voltadas para o aumento da qualidade de vida dos cidadãos.
- Precisam do envolvimento de stakeholders para dar certo (universidades, empresas, ONGs).
- São construídas com base em planejamento.
- Devem otimizar a utilização de recursos.
Exemplos no mundo de cidades inteligentes
São muitos os exemplos no mundo de cidades inteligentes para se olhar e se espelhar. Elas são uma das prioridades da União Europeia, por exemplo.
Veja o caso de Portugal, que criou em 2013, há quase dez anos, a Rede “Smart Cities Portugal”, que tem como objetivos:
- Promover o desenvolvimento e produção de soluções urbanas inovadoras de forma integrada, com vistas à estruturação das suas ofertas e sua valorização nos mercados internacionais;
- Potencializar a participação das empresas e cidades portuguesas no mercado das cidades inteligentes;
- Afirmar a imagem de Portugal como espaço de concepção, produção e experimentação de produtos e serviços para cidades inteligentes.
Não por acaso, o país hoje é um dos mais prósperos do continente, a nova meca econômica e cultural da Europa.
Projetos de CI em Amsterdã
Um bom case também é Amsterdã, na Holanda, que lançou uma política de cidade inteligente em 2009 e já acumula 170 projetos neste sentido. Eles envolvem universidades, empresas, cidadãos, organizações da sociedade e o governo.
Os projetos são executados através de dispositivos sem fio para aprimorar as tomadas de decisão da cidade em tempo real. Entre seus objetivos, estão a redução do tráfego, economizar energia e melhorar a segurança pública.
Além de Amsterdã, na foto, sempre aparecem entre as CIs mais citadas do planeta:
- Nova York
- Dubai
- Barcelona
- Londres
- Hong Kong
- Singapura
- Copenhague
- Estocolmo
Existem, ainda, cerca de 150 projetos ao redor do mundo de cidades inteligentes que estão em construção, ou seja, estão sendo criadas do zero.
Elas são totalmente conectadas, conforme o conceito de CI associado ao uso de alta tecnologia para gestão, serviços e infraestrutura. Este é um mercado, dizem, que vai movimentar mais de dois trilhões de dólares até 2024.
Mas e no Brasil, como estamos em termos de cidades inteligentes? Vamos ver a seguir.
Ranking brasileiro de cidades inteligentes
Nosso país também tem muitas cidades cujos administradores estão voltados para criar comunidades conectadas e inovadoras. Existe até mesmo um ranking brasileiro de cidades inteligentes, promovido pela consultoria Urban Systems.
Por haver diversos conceitos de CI, dos mais apoiados em tecnologia aos mais relacionados ao meio ambiente e sustentabilidade, foi elaborado um Ranking nomeado Connected Smart Cities.
O estudo considera o “Conceito de Conectividade” como a relação existente entre os diversos setores analisados. Nele, o desenvolvimento só é atingido quando os agentes de desenvolvimento da cidade compreendem o poder de conectividade entre todos os setores.
Exemplo disso é a consciência de que investimentos em saneamento estão atrelados não apenas aos ganhos ambientais, como aos ganhos em saúde. A longo prazo, vão reduzir os custos em atendimentos de saúde básica.
Consequentemente impactarão em questões de governança e até mesmo economia.
Indicadores e eixos temáticos
O Ranking Connected Smart Cities é composto por 75 indicadores em 11 eixos temáticos, que aparecem como elementos essenciais numa CI.
São eles: Mobilidade, Urbanismo, Meio Ambiente, Tecnologia e Inovação, Empreendedorismo, Educação, Saúde, Segurança, Energia, Governança e Economia.
Conforme estes critérios, foram classificadas nos dez primeiros lugares de Cidades inteligentes do Brasil em 2021:
- São Paulo (SP)
- Florianópolis (SC)
- Curitiba (PR)
- Brasília (DF)
- Vitória (ES)
- São Caetano do Sul (SP)
- Rio de Janeiro (RJ)
- Campinas (SP)
- Niterói (RJ)
- Salvador (BA)
Na lista das 100 cidades mais inteligentes, destacam-se os estados de São Paulo, com 37 municípios, e Minas Gerais e Paraná, com nove citações cada um.
Construtoras inteligentes para cidades inteligentes
Esta demanda por cidades inteligentes cria uma nova frente de oportunidades para a construção civil, com alto valor agregado nos seus empreendimentos. Contudo, traz também o desafio da modernização das empresas, para fazerem frente às exigências de projetos desta natureza.
É muito conhecida, porém, a resistência da construção civil em se modernizar. A inovação dos seus processos anda a passos lentos. Mas isto precisa mudar com urgência, para o setor corresponder às expectativas deste mercado em grande crescimento.
A indústria da construção tem uma contribuição fundamental para o desenvolvimento das CIs, mas ela própria precisa adotar processos mais inteligentes. Os novos tempos exigem construtoras com maior eficiência e produtividade, menos desperdícios e redução de custos.
Isto passa pela adoção de diferenciais competitivos que coloquem as empresas num patamar acima, onde sejam capazes de apresentar soluções para cidades inteligentes.
Veja quatro exemplos de inovação que as construtoras devem adotar, frente a essa realidade.
1- Digitalização
As empresas que quiserem acompanhar a tendência das CIs e sobreviver, precisam investir na digitalização ao máximo de seus processos. O desenvolvimento de cidades inteligentes não combina, de maneira nenhuma, com processos manuais e papelada inútil.
É hora dos smartphones, computadores, tablets, drones e outras alternativas afins tomarem conta dos canteiros de obras. Eles permitem organizar, conferir e transmitir facilmente as informações necessárias, de qualquer lugar, a qualquer hora.
2- Plataforma BIM
É impensável, nos dias de hoje, que uma construtora que pretenda disputar um mercado tão promissor ainda não trabalhe com a plataforma BIM. A demanda das cidades inteligentes por projetos mais modernos, eficientes, ágeis, tem relação direta com essa tecnologia.
Com o BIM (Building Information Modeling ou Modelagem de Informação da Construção) é possível criar digitalmente modelos virtuais extremamente precisos das construções. Eles permitem uma análise e controle de cada etapa das obras muito superior a qualquer processo manual.
3- Sistema Integrado de Gestão (ERP)
O Sistema Integrado de Gestão ou ERP, na sigla em inglês, assim como o BIM, é um software que está presente nas organizações mais avançadas da construção civil. Ele centraliza, coordena e agiliza a transmissão de dados.
Com um ERP incorporado à gestão, todas as áreas trabalham alinhadas, como uma engrenagem precisa. Sempre que acontece uma alteração de projeto, um novo prazo, uma troca de material ou um equipamento novo chega na obra, esse dado é lançado no sistema.
Na mesma hora, a informação é replicada nas demais áreas e se torna acessível a qualquer um dos interessados, bastando ter à mão um smartphone ou tablet. Assim não há ruídos de informação e retrabalho.
Nem desperdícios, atrasos e outros transtornos que são muito comuns na gestão tradicional.
4- Certificação ambiental
Com a sustentabilidade no centro das preocupações das cidades inteligentes, a certificação ambiental é um grande diferencial competitivo para as construtoras. É um selo de qualidade que comprova as boas práticas ambientais da empresa nos seus processos.
Há várias opções no mercado, como o Selo Azul da Caixa. Ele é destinado a empreendimentos habitacionais que adotem soluções eficientes na concepção, execução, uso, ocupação e manutenção das edificações.
Para ser sustentável, necessariamente, qualquer empreendimento precisa ser inteligente, para economizar água, energia e gerenciar corretamente seus resíduos. Organize sua empresa para isso e tenha todos os certificados ambientais que puder.
Atenção para mais este detalhe:
Segundo o Sebrae, um projeto de construção sustentável pode ter um acréscimo de 1% a 7% no seu custo de implantação, mas valoriza o preço do imóvel em cerca de 10%.
Cidades cada vez mais inteligentes
Estão por toda a parte, nos noticiários de todos os dias, os sinais do esgotamento de um modo de vida em cidades mal planejadas, com um tremendo caos urbano.
São metrópoles com tráfego congestionado, grande poluição do ar, barulho insuportável, sujeira, montanhas de resíduos, serviços ineficientes. Mais as mudanças climáticas que produzem impactos terríveis com seus eventos extremos.
Tudo isso exige cidades cada vez mais inteligentes.
Não se trata mais de uma opção, nem para as cidades e nem para as empresas da construção civil. A busca por inovação e respostas eficazes a esses problemas é uma questão de sobrevivência para todos.
Gestores, administradores, empreendedores e lideranças do setor precisam estar atentos às novas tendências na área das CIs. E se adaptar, tanto do ponto de vista cultural, interno, como do ponto de vista tecnológico, acelerando seus processos de modernização.
É assim que teremos empresas e cidades inteligentes, planejadas, racionais, capazes de superar tantos desafios e proporcionar melhor qualidade de vida para sua população.